terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Desaparecimento da Infância

Dica de livro dada pelo professor


O Desaparecimento da Infância
Neil Postman

por Laura Tuyama

Livro favorito de Neil Postman, O Desaparecimento da Infância chega ao Brasil após 17 anos de sua primeira edição. A principal tese é de que a infância, como a conhecemos, está em fase de extinção. Da mesma forma, o conceito do que é ser adulto está desaparecendo.

Segundo o autor, as evidências vão desde o fato de as crianças estarem usando os mesmos estilos de vestimenta e linguagem dos adultos, os hábitos alimentares, a profissionalização precoce, o acesso a informações que antes eram consideradas adultas, até o aumento do número de crimes cometidos por crianças e a erotização precoce.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, o autor descreve como surge o conceito de infância, que tem seu prenúncio na Grécia Antiga e que desaparece na Idade Média junto com a capacidade de ler e escrever, a educação e a vergonha. "Sem uma noção bem desenvolvida de vergonha a infância não pode existir".

Para Postman, o que separa o mundo da infância do mundo do adulto é o acesso a determinadas informações.

"Num mundo letrado, ser adulto implica ter acesso a segredos culturais codificados em símbolos não naturais. Num mundo letrado, as crianças precisam transformar-se em adultos. Entretanto num mundo não letrado não há necessidade de distinguir com exatidão a criança e o adulto, pois existem poucos segredos e a cultura não precisa ministrar instrução sobre como entendê-la".

Foi com a invenção da prensa tipográfica que passou a ser criado um mundo cujo acesso é permitido aos letrados. Nasce também toda a estrutura social, como a família, a escola, que vão definir os papéis de crianças e adultos.

A segunda parte do livro trata do desaparecimento da infância. Para o autor, a infância começa a desaparecer com o surgimento de outra tecnologia de comunicação: o telégrafo.

"A infância foi o fruto de um ambiente em que uma forma especial de informação, exclusivamente controlada por adultos, tornou-se pouco a pouco disponível para as crianças por meios considerados psicologicamente assimiláveis. A subsistência da infância dependia dos princípios da informação controlada e da aprendizagem seqüencial. Mas o telégrafo iniciou o processo de extorquir do lar e da escola o controle da informação. Alterou o tipo de informação a que as crianças podiam ter acesso, sua qualidade e quantidade, sua seqüência, e as circunstâncias em que seria vivenciada."

Para Postman, a televisão é o mecanismo que vem diluindo a fronteira entre o que é ser adulto e o que é ser criança. Isso porque o meio só requer aptidões naturais e o entendimento da fala, adquirido no primeiro ano de vida. Neste trecho, é significativo o ponto de vista que o autor tem da TV:

"A questão é que todos os acontecimentos na TV surgem completamente destituídos de continuidade histórica ou qualquer outro contexto, e numa sucessão tão rápida e fragmentada que caem sobre a nossa cabeça como uma enxurrada. Esta é a televisão como narcose, entorpecendo a razão e a sensibilidade".

O que chama atenção no livro é a idéia de que o conceito de infância não existe num contexto em que há escassez de informação. Da mesma forma, no mundo saturado de informação, ele também desaparece.

"A mídia elétrica propõe um sério desafio tanto à autoridade do adulto como à curiosidade das crianças. (...) Até certo ponto, a curiosidade chega naturalmente aos jovens mas a evolução dela depende da crescente consciência do poder de perguntas bem concatenadas para descobrir segredos. O mundo do conhecido e do ainda não conhecido está ligado pela ponte do espanto. Mas o espanto acontece em grande parte numa situação em que o mundo da criança está separado do mundo do adulto, onde as crianças devem procurar entrar mediante suas perguntas. Como a mídia funde os dois mundos, como a tensão criada pelos segredos a serem desvendados diminui, o cálculo do espanto muda. A curiosidade é substituída pelo cinismo, ou pior ainda, pela arrogância. Restam-nos, então, crianças que confiam, não na autoridade do adulto, mas em notícias vindas de parte nenhuma. Restam-nos crianças que recebem respostas a perguntas que nunca fizeram. Em resumo, não nos resta mais nenhuma criança."

Postman não tem a pretensão de mostrar soluções que possam reverter esse curso. Ele acredita que há duas forças de resistência, a família e a escola, mas que estão perdendo a luta.

As discordâncias a esta teoria surgem das próprias crianças. No prefácio de 1994, Postman cita uma crítica que recebeu de uma criança, Joseph: "A infância não desaparece porque a gente assiste à TV. Acho que a infância é desperdiçada quando vamos à escola cinco dias na semana. Na minha opinião, isto é demais. A infância é preciosa demais pra se ir à escola mais do que meia semana".

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